A Escuta da Clínica
Autora: Tânia
Ferreira
A Presença dos pais e sua especificidade na
psicanálise com crianças
Tratamento
“encomendado”:
- Para
proceder um tratamento psicanalítico, o importante é que alguém, que “seja seu
próprio senhor”, esteja vivendo um conflito que não se sente capaz de resolver
sozinho e, assim, pede auxílio.
Pedido
impossível de atender:
Infantil é
uma posição do sujeito (ex. a relação de “cola” com a mãe);
Como manejar
a transferência de alguém que é “levado”?
- As crianças
sempre são conduzidas por um outro;
No Caso Hans,
“só o pai,dada sua qualidade de possuidor da relação afetiva e do interesse
científico, poderia ter persuadido aquela criança de cinco anos a oferecer
aquele material”.
Winnicott,
como Freud, comporta-se assim na condução de alguns casos e ressalta:
“A criança precisava de minha
ajuda pessoal, mas existem muitos casos nos quais as sessões de psicoterapia
podem ser omitidas e toda a terapia pode ser feita pelo lar. A única perda é o
fato da criança não ter insight, o que não é de modo algum uma perda séria.”
Winnicott estabelece
uma distinção entre ‘terapia’ nos casos de psicose e desvios de conduta, e a
‘análise padrão’, para os casos de ‘neurose’. Nesta última, o procedimento é
diferente e não é outorgada, aos pais, a condução do processo.
Para Anna
Freud “é somente com o tratamento da própria mãe (ou pai) que, (...) se torna
possível afrouxar o vínculo patológico para agir como medida terapêutica no
filho.
Para Melanie
Klein, os pais devem manter uma relação de confiança com o analista. Mas não
são eles que serão analisados e “só poderão ser influenciados pelos meios
psicológicos comuns” que visem facilitar o trabalho do analista.
A
POSIÇÃO DOS PAIS COM CRIANÇAS AUTISTAS E PSICÓTICAS
Sobre a clínica com crianças psicóticas, Colette Soler fala de uma
psicanálise invertida, que é uma elaboração que vai do real em direção ao
simbólico, na perspectiva de produzir o que não aconteceu. Isto não se faz
apenas pela mediação da palavra do analista. É preciso que o pai, a mãe e a
criança sejam considerados como elementos da estrutura. O pai e a mãe
necessitam ser escutados não só como um sujeito, mas também em relação à função
que exercem para a criança.
Em Lacan, a criança psicótica é aquela cujo sintoma apresenta-se como
conseqüência da subjetividade da mãe. Porém é preciso que o analista tenha
cuidado em não confundir a criança com aquela que figura no discurso da mãe e
do pai.
Lasnik- Penot fala de uma prevenção do autismo, levando em conta dois
sinais clínicos, o não-olhar entre a mãe e o filho, nos primeiros meses de vida
e a não instauração do circuito pulsional completo (o oral, o auto-erótico e o
assujeitamento do sujeito ao Outro). Segundo o autor o fracasso desse circuito
pode se restabelecer com a intervenção do analista.
Porém, Ribeiro e Couto assinalam os equívocos que se pode promover quando
o analista é colocado no lugar de Ideal cuja função é resgatar essa falha original
na relação mãe-bebê. Pois o que está em questão no autismo é uma falta no
simbólico e não na relação mãe-bebê.
Contudo trata-se de, permitindo a palavra, fazer onde não tem, fazer o
que não aconteceu, abrir uma possibilidade de que o sujeito consista num certo
deslocamento desse lugar de objeto.
OS
PAIS NA CLÍNICA COM CRIANÇAS NEURÓTICAS – UMA RELAÇÃO DE EXTIMIDADE
Lacan indica que a transmissão feita pelos pais à criança não se reduz à
transmissão da vida, através das satisfações das necessidades, mas que pertence
a uma constituição subjetiva, implicando a relação com um desejo que não seja
anônimo.
Lacan indica ainda, que a criança não desejada pode ter tendências
suicidas, posto que se recusa a entrar na cadeia significante em que foi
inscrita, a despeito do desejo da mãe. Esta marca do desejo do Outro na
constituição subjetiva, segundo Tendlarz, pode culminar em diferentes
manifestações: passagens ao ato suicida, doenças orgânicas, anorexias graves e
várias outras. Estas são razões pelas quais o analista deve interrogar-se sobre
o manejo da posição dos pais na análise com uma criança.
Sobre isso, Lacan fala que não se trata de colher dados, como uma
anamnese, ou de se deter ao desencadeamento dos fatos, mas verificar o lugar
que a criança ocupa na estrutura familiar, a forma como se apresentou, no
desejo do pai e da mãe, a transmissão de uma subjetividade.
Desde o início, o analista deve diferenciar a criança como sintoma dos
pais e o sintoma da criança. Operar uma disjunção entre a queixa dos pais e
aquilo que verdadeiramente incomoda a criança.
O analista precisa ainda obter uma entrada, um certo franqueamento para
intervir no sintoma da criança. Pois o fato de os pais conduzirem a criança
para análise não significa que estejam de acordo com o tratamento dela. É
preciso que o analista consiga condições de sustentação da análise. Trata-se,
portanto, de conduzir os pais até uma implicação no sintoma e no tratamento da
criança.
Lacan fala de extimidade ou seja, o analista deve levar os pais, e cada
um deles, a uma relação de extimidade, de intima exterioridade, em relação ao
tratamento do filho, para que fiquem fora e, no mesmo movimento, dentro da
análise da criança, a partir do delicado manejo da transferência que uma
análise impõe.
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